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Entrevista | Vinicius Lummertz dá quadro geral dos efeitos da pandemia no turismo brasileiro

Por: Marcos Schettini
17/08/2020 17:41
Agencia EFE

Aluno reconhecido de importantes centros de educação do mundo, como a Universidade Americana de Paris (França), o IMD de Lausanne (Suíça) e o D’Overbroeck’s College em Oxford (Inglaterra), Vinicius Lummertz se tornou um dos maiores conhecedores da realidade do turismo brasileiro.

Autor do livro “Brasil: Potência Mundial do Turismo”, foi presidente da Embratur e ministro do Turismo. Hoje, no comando da Secretaria de Turismo de São Paulo, dá o rumo das atividades no maior Estado da América Latina.

Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, Lummertz deu panorama do atual quadro do turismo no Brasil e no mundo, mostrando números que apontam para a maior crise da geração atual. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, houve uma perda de R$ 2,7 trilhões do PIB do turismo mundial, gerando cem milhões de desempregados. Confira:


Marcos Schettini: Qual o mapa de destruição que a pandemia gerou no Turismo?

Vinicius Lummertz: Não diria que houve uma destruição, mas sim a maior crise em viagens e turismo da nossa geração. Diferente de tudo o que passamos. Hiperinflação e crises econômicas, que poderiam ser citadas como fatos anteriores de impacto, não chegam nem perto do vivido neste momento. O Brasil perdeu R$ 122 bilhões apenas entre março e junho, segundo a Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo. Todos os segmentos do turismo foram atingidos. Empresas aéreas reduziram a operação ao mínimo, transportadoras rodoviárias mantiveram menos de 10% do movimento, hotéis foram fechados por opção de prefeitos ou receberam apenas pessoas que não conseguiram adiar compromissos, agências e operadoras receberam clientes para renegociar ou reagendar, em vez de programar novas viagens, guias e profissionais de eventos simplesmente não tiveram a quem atender. Felizmente, em São Paulo, os primeiros sinais, em julho e agosto, são de um retorno com consciência.


Schettini: E no mundo?

Lummertz: Os impactos internos, em praticamente todos os países, foram os mesmos. Interrupção pela necessidade do isolamento. Na Europa, imediatamente atingida depois da China, a aproximação do verão obrigou a uma ação rápida do poder público e setores privados, criando corredores considerados mais seguros e a observação de um crescimento de viagens domésticas, rodoviárias e de curta distância. Já as viagens internacionais praticamente deixaram de acontecer, o que causará um impacto violento da saúde financeira de muitas empresas. As estimativas do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC) são de cem milhões de empregos perdidos, o lado mais dramático da crise.


Schettini: SP adota qual estratégia para incrementar o setor?

Lummertz: A estratégia de São Paulo, hoje identificada como a mais correta, foi a de proteção da vida. Não há mercado sem consumidores, não há desenvolvimento possível quando a saúde da população está em risco. Em paralelo, adotamos diversas iniciativas de preservar as atividades: adaptações do plano de crédito, para socorrer as empresas, mediação de conflitos entre entidades, encaminhamento de pleitos de associações, manutenção de repasses para obras em 150 cidades de todas as regiões do Estado, estruturação de projetos de longo prazo, como o das Rotas Cênicas.

Schettini: A derrubada do carnaval no RJ e SP pela pandemia, diz o quê?

Lummertz: São uma boa tradução da seriedade da crise de saúde. Note que não foram cancelados por problemas com os eventos, mas sim pelo entendimento de que, com as inevitáveis aglomerações, os riscos de um novo surto ou de um prolongamento dessa situação dramática seria potencializado. Milhares de eventos menos famosos foram adiados ou cancelados pelo mesmo motivo.


Schettini: Quando o eixo RJ e SP fragiliza, é correto afirmar que o turismo terá outra face depois da pandemia?

Lummertz: O turismo terá outra face no mundo. Porém, veja, o impacto está dado e ninguém estava preparado. Quem é do setor, contudo, tem a obrigação de olhar para frente. Turismo é uma dimensão econômica que tem o otimismo como um de seus pilares. Entendo, então, que pode ser o momento de darmos início ao novo turismo, corrigindo erros locais, estaduais e nacionais para que esta indústria possa se desenvolver e continuar contribuindo para uma sociedade melhor.


Schettini: Os setores aéreo e naval terão quais exigências para a retomada?

Lummertz: Basicamente o atendimento dos protocolos de segurança em saúde que, diga-se, as empresas aéreas, a primeiras afetadas no turismo, abraçaram de uma forma extremamente profissional, entendendo que só oferecendo garantias aos clientes, poderiam retornar mais rápido.


Schettini: Por que viajar dentro do país é mais caro que no exterior?

Lummertz: Poderíamos ficar horas abordando esta questão, todos falaríamos e todos teríamos razão. Vamos tentar resumir bem e exemplificar: basicamente pelo encontro da nossa baixa produtividade com um emaranhado legal que, muitas vezes ultrapassado, prejudica a expansão dos negócios. Penaliza sem trazer resultados. Dois exemplos: em 2018, aprovamos no Governo Federal a retirada do imposto de importação para equipamentos de parques temáticos. Por década esse foi um pedido do setor privado. Em 2019, essa decisão foi ratificada no âmbito do Mercosul.A justificativa da imposição da alíquota era estimular o desenvolvimento da indústria nacional. Resultado: o parque industrial brasileiro continua não fabricando montanhas russas e os empresários do setor de parques continuavam pagando o triplo que seus concorrentes de outros países. Outro exemplo, já em SP: reduzimos o imposto sobre combustível de aviação de 25% para 12%. Resultado: 700 novas frequências aéreas, ligando vários aeroportos regionais aos grandes hubs aéreos do País, energizando a economia local. Esses dois exemplos explicam uma parte do problema e sinalizam possíveis soluções. E há também a necessidade do aumento da nossa produtividade, que impacta negativamente os resultados e, neste ponto, as empresas também têm muito em que colaborar.


Schettini: Empregada doméstica pode ir para a Disney?

Lummertz: Pode, naturalmente. Foi uma frase infeliz do ministro Guedes que, tenho certeza, não traduz o seu pensamento.


Schettini: Se os eventos foram todos declinados, como atrair o turista de agora em diante?

Lummertz: A realização de eventos é uma parte da oferta turística. Não a única. O mercado e os destinos vão se adaptar. Dou outro exemplo: a São Paulo Boat Show, maior evento indoor dessa indústria, foi adiada a não teria nem espaço nem data no calendário. Pois bem, negociamos com a direção da Cidade Universitária (USP) e o evento acontecerá no final de novembro, na raia da USP, ao ar livre e de forma inovadora. Os fatos estão se apresentando à nossa frente, independente de nossa vontade. Cabe a nós, contudo, dar a melhor solução possível. O Boat Show, que recebe muitos catarinenses, é um exemplo.

Schettini: Quanto o país perdeu no setor como um todo e SP em particular?

Lummertz: As estatísticas e estudos de impacto econômico vêm sendo revisados, de acordo com a duração das restrições em diversos mercados. O WTTC indicou uma perda mundial de R$ 2,7 trilhões do PIB do turismo mundial e mais de cem milhões de empregos. Em São Paulo, a nossa perda com o turismo receptivo está prevista em R$ 17 bilhões e o saldo de geração de empregos, que foi positivo em 50 mil no ano passado, segundo o Caged, este ano está negativo em 120 mil.


Schettini: Empresas voltadas ao entretenimento, bares e restaurantes, vão voltar quando à normalidade?

Lummertz: O normal, a normalidade, são reflexos das circunstâncias. Daí ter sido cunhada a expressão “o novo normal”. Já estamos retornando. Em julho, os bares e restaurantes voltaram a abrir, porém com capacidade e horários limitados; em agosto, o horário foi ampliado e permitida abertura noturna, quando o consumo é mais alto. E assim caminhamos, construindo esta nova normalidade, mantendo como foco, sempre, a preservação da saúde das pessoas.


Schettini: O mundo se modificou em qual direção?

Lummertz: Penso que na direção de uma relação mais humana. Que valorize as experiências autênticas e menos superficiais.


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